O tempo Vida !

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

AVES DE ARRIBAÇÃO



Pensava em ti nas horas de tristeza,
Quando estes versos pálidos compus,
Cercavam-me planícies sem beleza,
Pesava-me na fronte um céu sem luz.

Ergue este ramo solto no caminho.
Sei que em teu seio asilo encontrará.
Só tu conheces o secreto espinho
Que dentro d'alma me pungindo está.
Fagundes Varela

Aves, é primavera! à rosa! à rosa!
(Tomás Ribeiro)
Imagem de pesquisas do google

Um comentário:

  1. I
    Era o tempo em que as ágeis andorinhas
    Consultam-se na beira dos telhados,
    E inquietas conversam, perscrutando
    Os pardos horizontes carregados...
    Em que as rolas e os verdes periquitos
    Do fundo do sertão descem cantando...
    Em que a tribo das aves peregrinas
    Os Zíngaros do céu formam-se em bando!
    Viajar! viajar! A brisa morna
    Traz de outro clima os cheiros provocantes.
    A primavera desafia as asas,
    Voam os passarinhos e os amantes!...

    II
    Um dia Eles chegaram. Sobre a estrada
    Abriram à tardinha as persianas;
    E mais festiva a habitação sorria
    Sob os festões das trêmulas lianas.
    Quem eram? Donde vinham? — Pouco importa
    Quem fossem da casinha os —
    São noivos — : as mulheres murmuravam!
    E os pássaros diziam: — São amantes — !
    Eram vozes-que uniam-se cotas brisas!
    Eram risos-que abriam-se cotas flores!
    Eram mais dois clarões — na primavera!
    Na festa universal-mais dous amores!
    Astros! Falai daqueles olhos brandos.
    Trepadeiras! Falai-lhe dos cabelos!
    Ninhos d'aves! dizei, naquele seio,
    Como era doce um pipilar d'anelos.
    Sei que ali se ocultava a mocidade...
    Que o idílio cantava noite e dia...
    E a casa branca à beira do caminho
    Era o asilo do amor e da poesia.
    Quando a noite enrolava os descampados,
    O monte, a selva, a choça do serrano,
    Ouviam-se, alongando à paz dos ermos,
    Os sons doces, plangentes de um piano.
    Depois suave, plena, harmoniosa
    Uma voz de mulher se alevantava...
    E o pássaro inclinava-se das ramas
    E a estrela do infinito se inclinava.
    E a voz cantava o tremolo medroso
    De uma ideal sentida barcarola...
    Ou nos ombros da noite desfolhava
    As notas petulantes da Espanhola!

    III
    As vezes, quando o sol nas matas virgens
    A fogueira das tardes acendia,
    E como a ave ferida ensanguentava
    Os píncaros da longa serrania,
    Um grupo destacava-se amoroso,
    Tendo por tela a opala do infinito,
    Dupla estátua do amor e mocidade
    Num pedestal de musgos e granito.
    E embaixo o vale a descantar saudoso
    Na cantiga das moças lavadeiras!...
    E o riacho a sonhar nas canas bravas.
    E o vento a s'embalar nas trepadeiras.
    O crepúsculos mortos! Voz dos ermos!
    Montes azuis! Sussurros da floresta!
    Quando mais vós tereis tantos afetos
    Vicejando convosco em vossa festa?...
    E o sol poente inda lançava um raio
    Do caçador na longa carabina...
    E sobre a fronte d'Ela por diadema
    Nascia ao longe a estrela vespertina.

    IV
    É noite! Treme a lâmpada medrosa
    Velando a longa noite do poeta...
    Além, sob as cortinas transparentes
    Ela dorme... formosa Julieta!
    Entram pela janela quase aberta
    Da meia-noite os preguiçosos ventos
    E a lua beija o seio alvinitente —
    Flor que abrira das noites aos relentos.
    O Poeta trabalha!... A fronte pálida
    Guarda talvez fatídica tristeza...
    Que importa? A inspiração lhe acende o verso
    Tendo por musa — o amor e a natureza!
    E como o cáctus desabrocha a medo
    Das noites tropicais na mansa calma,
    A estrofe entreabre a pétala mimosa
    Perfumada da essência de sua alma.
    No entanto Ela desperta... num sorriso
    Ensaia um beijo que perfuma a brisa...
    ... A Casta-diva apaga-se nos montes...
    Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!

    V
    Hoje a casinha já não abre à tarde
    Sobre a estrada as alegres persianas.
    Os ninhos desabaram... no abandono
    Murcharam-se as grinaldas de lianas.
    Que é feito do viver daqueles tempos?
    Onde estão da casinha os habitantes?
    ... A Primavera, que arrebata as asas...
    Levou-lhe os passarinhos e os amantes!...
    Aves de Arribação, Castro Alves in Espumas Flutuantes

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