segunda-feira, 31 de maio de 2010
Falcoaria
A falcoaria é a ciência de adestrar aves de rapina, considerada por muitos uma forma de arte devido ao alto grau de sensibilidade e dedicação exigidas para sua prática. Muitos de nós associam a falcoaria a filmes e romances históricos famosos onde cavaleiros envergando brilhantes armaduras trazem em seu punho belos falcões com estranhos adornos sobre a cabeça e fitas que balançam sob suas garras quando as aves voam, deixando a luva do falcoeiro.
Imagina-se que a falcoaria tenha começado a ser praticada na época em que os homens ainda viviam da caça e coleta. Seu local de origem é incerto, porém, diversas teorias apontam a Ásia Central, China e Pérsia como berço mais provável. Os registros mais seguros sobre a idade da falcoaria são gravuras ilustrando claramente um falcoeiro em atividade, encontradas no século passado em ruínas na Mesopotâmia e datadas como sendo de 1700 a.C., contudo, registros mais antigos levam a crer na utilização de falcões como presentes oferecidos a príncipes chineses durante a dinastia Hia (provavelmente iniciada em 2205 a.C.).
Estas técnicas de caça chegaram à Europa ao redor do século V e foram introduzidas pelos invasores germânicos. Os mosaicos da Villa Halconero, em Argos, na Grécia, mostraram pela primeira vez no que consiste esta arte. Depois da sua introdução na Europa, a falcoaria se disseminou rapidamente tornando-se o esporte favorito de reis e príncipes. Durante a Renascença, quando as armas de fogo foram aperfeiçoadas, a falcoaria declinou e praticamente desapareceu.
A falcoaria deu origem a uma literatura abundante. O primeiro trabalho na Europa foi o tratado de "Anonymous de Vercelli". Sagrado Imperador Romano, Rei da Sicília e Rei de Jerusalém, Frederico II von Hohenstaufen escreveu uma das mais belas e mais completas obras sobre o assunto. Aficcionado pela caça e com um interesse especial em falcoaria e ciências naturais, Frederico II coletou informações, experiências e observações por mais de trinta anos para escrever o tratado mais importante do Ocidente: A Arte da Falcoaria (De Arte Venandi cum Avibus).
Escrito em 1274, este tratado tornou-se o mais conhecido e mais famoso sobre o assunto, em parte também devido às suas belíssimas ilustrações. A marginália mostra 170 figuras humanas, mais de 900 espécies de pássaros, 12 cavalos e 36 outros animais, além de todos os apetrechos necessários para a prática da falcoaria. Como Frederico II se opunha à Igreja, seus escritos foram inicialmente proibidos e só foram publicados em 1596. Os ornitólogos demoraram mais algum tempo para "descobrir" o livro, o que só ocorreu em 1788. Este foi um dos primeiros trabalhos científicos e a obra que estabeleceu as bases para a ornitologia.
Mas porque falar da falcoaria nos dias de hoje? Puro saudosismo, encanto pela Idade Média ou apenas um esporte para poucos? As coisas não são bem assim. Os falcões, como aves de rapina, são predadores de topo de cadeia alimentar e costumam "fixar residência" numa área que demarcam como sendo de "sua propriedade". Por este motivo funcionam como verdadeiros "sensores" das condições ambientais dos seus territórios. Como se alimentam caçando várias espécies diferentes, também podem fornecer dados importantes para análises epidemiológicas.
Foi com falcoeiros que aprendemos ser possível a reprodução em cativeiro, hoje um elemento importantíssimo para programas de preservação da vida silvestre ao redor do mundo. Seguem dois exemplos:
Em julho de 1999, Bill Clinton, o então presidente dos EUA, anunciou que a ave nacional, a águia-careca (Haliaeetus leucocephalus), havia sido retirada da lista de espécies sob risco de extinção graças aos esforços de programas de conservação conduzidos pelo governo. Ambientalistas em todo o mundo congratularam-se pelo desenvolvimento de uma tecnologia capaz de permitir a reprodução, condicionamento e integração à vida silvestre de animais tão delicados e importantes quanto predadores de topo de cadeia alimentar.
Em 2001 o sucesso americano foi repetido pelo Projeto de Conservação do Condor Andino (Vultur Gryphus), conduzido binacionalmente pela Argentina e Chile desde 1991, através da soltura, em áreas de conservação, de aves reproduzidas em cativeiro. Foi mais uma grande vitória na luta contra o desaparecimento de outra espécie praticamente extinta na natureza.
Ainda não é tudo. Como os falcões costumam "por ordem no pedaço", estas aves de rapina podem ser acionadas para "espantar" outras aves que se aglomeram em locais onde representem perigo. É o caso de armazéns de grãos, silos e fábricas onde costuma haver grande concentração de pombas por falta de predadores naturais. Além de transmitirem uma porção de doenças graves (o que é um problema de saúde pública), os excrementos deixados por estas aves é um entrave sério: será que o padeiro quer comprar farinha ou grãos com fezes de pombas? Os importadores do nosso trigo e da nossa soja também estrilam, e não é pouco! Embalagens sujas e máquinas emporcalhadas também não são o que se quer numa empresa. É aí que entra o falcoeiro, simplesmente para intimidar as pombas evitando que voltem ao local.
Outro trabalho "moderno" para os falcões é em espaços de aeroportos. O número de acidentes causados durante pousos e decolagens é bastante significativo, principalmente quando aves de maior porte, como urubus, gaviões e gaivotas, ficam circulando nestas áreas e acabam colidindo com aeronaves ou sendo sugadas por turbinas. Na Europa e nos EUA, principalmente nos aeroportos de grande movimento e nos aeroportos militares, há muitos anos a falcoaria é uma realidade.
Fonte das pesquisas WEB imagens do google
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