O dia há-de chegar,
com a capa de vento
a ondular
e cabelos de sol a clarear
o côncavo das grutas.
Nas mãos, o riso dos meninos
e o canto dos pássaros.
Sempre os pássaros,
com seus presságios
álacres ou soturnos.
Estarei na minha torre,
a entrançar desejos
de tapetes de flores
e de águas borbulhantes
e de pássaros verdes.
Sempre os pássaros.
O dia há-de chegar,
a embrulhar de azul
o meu castelo,
a invadir a torre,
a incitar-me ao salto,
a colar-me nos olhos
a leveza dos pássaros.
Sempre os pássaros.
Irei.
Licínia Quitério
Desde sempre os conhecemos.
Em bandos ou solitários, nos campos, nas praias, nas cidades, os pássaros lá estão. Espiam-nos, chamam-nos, provocam-nos.
Às vezes rasam-nos o corpo, sem se deixarem tocar.
Cantam para nos acordar, gritam à procura do asilo nocturno ou aparecem de noite a piar tristezas. Louvam a vida e pressentem a morte.
Habitam os troncos das árvores ou as moitas rasteiras ou as fragas nas alturas.
Mergulham até ao peixe ou debicam as searas. Sabem tudo do vento e das tempestades.
Livres, livres. Tão alto subindo, tão alto, são a nossa inveja, a medida da nossa pequenez.
Nunca os poetas os ignoram. Ilustram-lhes os versos ou são os próprios versos.
Quem pode imaginar um mundo sem os pássaros?
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